Impressionante e exemplar, são apenas dois dos adjetivos que podem qualificar a atitude de Paulo Gonçalves na sétima etapa do Dakar2016.
Pode-se dizer mesmo que Paulo Gonçalves foi o herói do dia. Apesar de estar totalmente envolvido na luta pela vitória, tendo Toby Price (KTM) a apenas alguns segundos atrás de si na geral das motos, "Speedy" Gonçalves esqueceu tudo isso e demonstrou, mais uma vez, o verdadeiro espírito do Dakar.
O piloto de Esposende parou durante a especial para ajudar Matthias Walkner, um dos seus mais fortes adversários à vitória final (estava no 3º lugar, a 2m50s), que sofreu uma aparatosa queda logo nos primeiros quilómetros do dia e ficou imobilizado no local.
Gonçalves permaneceu ao lado de Walkner durante vários minutos até chegar a assistência, vendo mais tarde o seu gesto reconhecido pela organização, que tal como é hábito em situações deste tipo, no final da etapa retirou o tempo perdido (10m53s) ao piloto que prestou ajuda a um colega de corrida.
Nos primeiros momentos pensou-se que o austríaco tinha fraturado a clavícula, mas mais tarde chegou a confirmação de que o piloto da KTM tinha na realidade fraturado a tíbia.
Sobre esse momento, Paulo Gonçalves partilhou o seu sentimento. "No início da especial parei para ajudar o Matthias Walkner que tinha caído, e fiquei com ele até o Pablo Quintanilla chegar. Fiz aquilo que me competia, ao contrário acredito que fizessem o mesmo por mim. O Dakar é uma aventura de muito risco, de muito sacrifício, damos tudo por tudo ao longo de vários dias, milhares de quilómetros, e o risco está sempre à espreita. Não sou um herói, sou um ser humano com respeito pelos outros. A nossa vida vale mais que qualquer vitória, sem ela não vencemos!", vaticinou.
O video do momento em que Paulo Gonçalves auxilia Matthias Walkner:
Paulo Gonçalves termina primeira semana com liderança reforçada e Hélder Rodrigues continua a recuperar
O cumprimento do percurso, e atribuição dos resultados finais dos pilotos, foram pautados por uma certa confusão, uma vez que a etapa foi cortada a meio, com a organização a anular a segunda parte do troço, novamente devido ao mau tempo, situação que tem marcado a edição deste ano do Dakar 2016.
Com isso, a organização da prova tomou apenas em consideração, para efeitos classificativos, os tempos registados na primeira parte da etapa, o único setor que todos os pilotos cumpriram.
Depois de diferentes versões das tabelas classificativas, a última e definitiva versão atribui o terceiro melhor tempo da etapa a Paulo Gonçalves, a 1m56s do vencedor da tirada, Antoine Meo (KTM), e a apenas 3 segundos do segundo mais rápido, Kevin Benavides, seu colega de equipa na Honda.
Ao cabo da primeira semana da mais dura prova de todo-o-terreno do mundo, Paulo Gonçalves lidera a classificação geral e dispõe agora de uma vantagem de 3m12s sobre o opositor mais próximo, Toby Price (KTM), que hoje ficou a 4m33s do vencedor. O 3º da geral é Stefan Svitko (KTM), com 9m24s de atraso sobre o esposendense.
Sobre as incidências da etapa, Paulo Gonçalves disse: "A primeira parte da etapa tinha alguma navegação, mas depois ficou um pouco como há dois dias atrás, com muitos rios. Na segunda parte da especial, após a neutralização, estava a chover imenso. Fiquei com algum receio, e estava quase a nevar. O tempo melhorou um pouco no final. Estou de certa forma satisfeito com o dia de hoje, e também com esta semana. Se conseguir repetir isto na segunda semana, de certeza que ficarei muito satisfeito, mas penso que as etapas serão muito diferentes, portanto vamos ver".
Hélder Rodrigues viu a sua prestação na etapa sofrer com a penalização de 2 minutos, desconhecendo-se ainda a razão, fazendo somente o 15º registo oficial da tirada, o que fez com que o piloto da Yamaha caísse um lugar na geral. É agora sétimo, a 24m44s de Gonçalves.
Por outro lado, Mário Patrão (KTM) registou o 22º tempo na etapa. É 25º da geral, enquanto Pedro Bianchi Prata (Honda) foi 59º na etapa e ocupa o 48º lugar da geral.
Dia bastante atribulado origina mais abandonos de pilotos com aspirações fortes
Depois do abandono de ontem do português Ruben Faria, devido a lesão provocada após uma queda, a sétima etapa arrastou consigo o abandono de mais nomes que partiram para esta edição do Dakar com fortes ambições de conquistar posições de relevo.
Um dos azarados do dia foi o já referido Matthias Walkner, com quem a atitude nobre de Paulo Gonçalves tem corrido um pouco por todo o mundo.
Outro dá pelo nome de Joan Barreda, piloto que nos primeiros dias deste Dakar impôs um andamento muito forte e não fossem as penalizações por excesso de velocidade sofridas em duas etapas consecutivas, teria passado pela liderança da prova.
O espanhol da Honda nem chegou a arrancar de Uyuni, pois viu o motor da sua moto falhar, sendo de seguida rebocado para o bivouac, a caminho do qual, de acordo com as suas palavras, sofreu uma queda.
Assim se esfumou a possibilidade de Barreda funcionar como um ajudante de luxo do seu colega de equipa, Paulo Gonçalves, na luta pela conquista do Dakar.
Domingo é dia de descanso em Salta. Na segunda-feira a ação retoma com exigente navegação sobre as primeiras dunas. O pelotão ruma de Salta a Belén num total de 766 quilómetros, dos quais 393 cronometrados.
Classificação da 7ª etapa:
1. Antoine Meo (KTM), 2h27m27s
2. Kevin Benavides (Honda), +1m53s
3. Paulo Gonçalves (Honda), +1m56s
4. Michael Metge (Honda), +3m51s
5. Toby Price (KTM), +4m33s
6. Pablo Quintanilla (Husqvarna), +4m52s
7. Txomin Arana (Husqvarna), +5m03s
8. Gerard Guell (KTM), +6m01s
9. Stefan Svitko (KTM), +6m03s
10. Ricky Brabec (Honda), +6m17s
(...)
15. Hélder Rodrigues (Yamaha), +6m28s [2 minutos de penalização]
(...)22. Mário Patrão (KTM), +8m26s
(...)
59. Pedro Bianchi Prata (Honda), a +33m23s
Classificação geral após a 7ª etapa:
1. Paulo Gonçalves (Honda), 22h52m30s
2. Toby Price (KTM), +3m12s
3. Stefan Svitko (KTM), +9m24s
4. Pablo Quintanilla (Husqvarna), +18m06s
5. Kevin Benavides (Honda), +21m01s
6. Antoine Meo (KTM), +21:06s
7. Hélder Rodrigues (Yamaha), +24m44s
8. Gerard Guell (KTM), +29m57s
9. Alain Duclos (Sherco), +30m32s
10. Juan Garcia (Sherco), +31m45s
(...)
25. Mário Patrão (KTM), +1h13m09s
(...)
48. Pedro Bianchi Prata (Honda), +3h37m57s
Sem comentários